29 de setembro de 2015

Cuba, por boas razões


A marca de charutos cubanos Hoyo de Monterrey, estabelecida pelo emigrante catalão don José Gener y Batet, em 1865, é uma das mais antigas de Cuba ainda em actividade. Produz charutos na região de Vuelta Abajo (uma das cinco regiões tabaqueiras), província de Pinar del Río, na ponta ocidental da ilha, fornecendo a empresa estatal cubana Habano S.A., ramo da Cubataco que controla a distribuição e exportação de charutos cubanos para todo o mundo. No início dos anos 70 do século passado uma empresa com o mesmo nome foi estabelecida nas Honduras.
 
Entre os seus habanos mais famosos está o Epicure N.º 2 (robusto), de que este Epicure Especial (140 × 19.84 mm), um robusto extra lançado em 2008, na sequência da Edição Limitada de 2004, é um desenvolvimento. Esteve entre os primeiros cinco melhores charutos cubanos de 2014. Prima pela extrema suavidade, muito cremoso, muito sedutor, apresentando uma complexidade progressiva ao longo dos seus catorze centímetros. As especiarias insinuam-se de forma quase imperceptível e, naturalmente, atingem a plenitude no último terço do charuto, sem nunca perder a sua característica suavidade.

23 de setembro de 2015

Outras cozinhas

Há coisas que não se esquecem. Fazer a aproximação à Régua pela estrada pombalina que vem de Lamego é parte da emoção que nos assalta ao revisitar a civilização vinhateira do Douro. De súbito a paisagem ante os nossos olhos funde-se com a nossa própria experiência e com algumas das páginas mais familiares de Torga, Manuel Mendes, Araújo Correia e do seu filho Camilo, de António Barreto ou Pires Cabral, formando uma espécie de música de fundo que é ainda o próprio trabalho da emoção a desfiar-se.


Ir à Régua, que antes era porta de saída e agora é pórtico de entrada, é também ir em peregrinação ao Cacho d’Oiro, lugar de sólidas tradições e que não decepciona, como comprovámos mais de uma vez. É um restaurante de ambiente tradicional, sem outra pretensão que não seja a satisfação prandial do cliente, sem nenhum conforto decorativo de monta, mas com um requinte especial: a simpatia, atenção e afabilidade de todos quantos lá trabalham. Mas não é esse o único aspecto que merece referência, pois a qualidade de confecção dos pratos é assinalável: carnes, peixes e sobremesas. Recordo aqui, a título de exemplo, as costeletinhas de anho na brasa, o bife do lombo, os filetes de polvo com arroz do mesmo, o polvo no forno em crosta de broa. E falta uma referência essencial: o vinho tinto do lavrador (que já não é dos «Lavradores de Feitoria»), engarrafado sem rótulo, é uma companhia muitíssimo recomendável, embora a casa disponha de uma razoável lista de outros vinhos. E, atenção, está aberto até não haver mais clientes.



Novidade foi o Castas e Pratos, um bar que é também restaurante. A primeira boa impressão foi para o «espaço», um aproveitamento muito bem concebido de antigos armazéns ao serviço da estação de caminhos-de-ferro. Aqui, o pessoal é também simpático e muito profissional (de há muito uma das diferenças notáveis na restauração do Norte), mas o ambiente é muito diferente, mais sofisticado, com alguns tiques, mas sem ser pedante. A decoração é sobretudo criada pela iluminação (que num ou noutro ponto chega a ser de menos) e é extremamente confortável. A comida apresenta alguns dos maneirismos próprios da chamada «cozinha de autor», mas é admiravelmente perfumada e saborosa: o cabrito estufado em vinho do porto com esmagado de favas e alheira de caça, o magret de pato com abacaxi em rum e maçã reineta, o salmão grelhado, o bife do menu infantil… O demi-cuit  de chocolate negro com gelado de frutos do bosque estava no ponto, embora o chocolate não estivesse à altura. A lista de vinhos é robusta, centrada nos vinhos do Douro, como é natural, e tem a virtude de à variedade das marcas juntar uma saudável variedade de preços. Bebeu-se uma garrafa de Pombal do Vesúvio, que não desmereceu.

8 de setembro de 2015

Convidado especial

Já sabíamos que os brancos de 2014 apresentam elevados níveis de qualidade. Já sabíamos que os vinhos de Palmela atravessam uma fase excelente. O branco Reserva 2014 da casa Xavier Santana confirmou tudo isso. Feito com Viosinho e Moscatel, teor alcoólico 12,5%, é um vinho fresco, com boa acidez e estrutura, aromático e floral, a que o moscatel garante um final de boca persistente, sem exageros nem desequilíbrios. Excelente companheiro das amêijoas e do peixe assado de que se fala abaixo.



Memórias de um dia de Agosto



O dia começou com um encontro previamente combinado no Mercado de Cascais*. Aquisições: um belo robalo, amêijoa boa, batatinhas, pimentos, um ramo de coentros, uma cabeça de alho.

Chegados a casa, os preparativos: a grelha, os condimentos, o vinho a refrescar.

Com as brasas no ponto requerido, assaram-se os pimentos e, uma vez assados, arranjaram-se para a salada, temperada com orégãos e azeite.






Enquanto um elemento vigiava a assadura do robalo, outro preparou a frigideira para as amêijoas: azeite, 5 ou 6 dentes de alho esmagados com pele. Quando estava bem quente, deitaram-se as amêijoas, regando com um pouco de vinho branco e tapando a frigideira; quando as amêijoas abriram, juntaram-se os coentros picados para servir imediatamente.




Seguiu-se o peixe, excelente, com a salada de pimentos, um salada de tomate e batatinhas cozidas.

A tarde estava quente, reforçado pelo calor da grelha, mas a refeição e o vinho (ver Convidado Especial) convidaram à conversa, que se prolongou até às primeiras horas da madrugada, amenizada pelos petiscos que entretanto se foram inventando pelo caminho.

Foi uma refeição sem pingo de originalidade. Apenas a qualidade da matéria-prima e a excelência da confecção, em que todos participaram. Magnífico!

* Aproveita-se para destacar o excelente trabalho que tem sido realizado nos mercados de Lisboa e de outras cidades, e que no caso de Cascais nos pareceu particularmente feliz.

5 de setembro de 2015

Sugestão para o final do Verão



Uma magnífica salada de arroz, óptima refeição para servir a um grupo de amigos no final das férias. 

Pode utilizar-se qualquer arroz vaporizado; neste caso usámos Uncle Ben, para ter um tempo de cozedura garantido.

Ao arroz, que tem de ficar completamente solto, adicionámos: galinha cozida desfiada, cebola roxa, cenoura ralada, pimento vermelho, maçã verde, couve roxa, pepino em quadrados, milho, alcaparras, presunto, azeitonas verdes recheadas, nozes, uvas, tomate cherry, rebentos de beterraba.

Ainda se poderiam juntar outras coisas, como, por exemplo, uma tortilha cortada em tiras.

É delicioso, mas é absolutamente indispensável que seja complementado com um molho. 

O molho à Americana leva natas batidas, maionese, ketchup, uísque, pimenta-de-caiena e sal; deve ser servido bem fresco (cf. Maria de Lourdes Modesto, Receitas Escolhidas, p. 30).