14 de março de 2015

Outras cozinhas



Este primeiro calor, precário e pré-primaveril, despertou a vontade de lavar os olhos numa paisagem marinha e a saudade — depois do deleite sazonal com o bom sável frito e açorda de ovas (na excelente cozinha de bairro do Andorinhas) — de comer peixe grelhado. Onde é que se come bom peixe em Setúbal? Não faltarão sítios para o fazer, mas um texto de Miguel Esteves Cardoso, publicado há já dois anos, e que o Google desencantou, dava boas indicações sobre um pequeno restaurante chamado O Batareo.

O Batareo é tudo o que MEC dizia que era. Não há lista, há uma montra de peixes. O peixe é o luxo deste Batareo. E que outro requinte que não a frescura do peixe? Que maior requinte que a interiorização de que o peixe fresco na grelha não precisa de mais nada: o galheteiro não faz parte desta paisagem. O que faz, sim, parte indispensável dela é a simples salada (alface, tomate e pimento assado) já temperada, bem temperada, isto é, temperada com equilíbrio; e as batatas cozidas, apresentadas sem pele, a desfazerem-se do calor da panela e regadas com azeite.

O peixe escolhido foi o sargo, saborosos sargos arrábidos, escalados, e no ponto certo de assadura — antecedidos por fresquíssimas amêijoas cujo tempero não conseguiu perturbar o sabor a mar que orgulhosamente exibiram. O vinho da casa, servido em jarro, branco e fresco, é vinho da região (Palmela, da casa Ermelinda de Freitas) e cumpre plenamente a sua função. Ao lado, ao fundo, o Sado.

Marcar mesa é indispensável, o restaurante é pequeno, só está aberto ao almoço, e enche-se facilmente, obrigando a espera. O ideal é ir num dia de semana. De preferência num dia de sol para poder sentar numa das mesas da pequena esplanada, junto à grelha. Vale a pena.

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