28 de janeiro de 2014

Outras cozinhas


O Chico é um restaurante de aparência modesta na Avenida da República, em Ferreira do Alentejo. Tão modesta que quase pode passar despercebido a quem passa. Mas O Chico não é um restaurante que espere desconhecidos de passagem. É um restaurante de clientes habituais, que vão passando palavra, aumentando o círculo dos que já ouviram falar dele e que, quando a oportunidade surge, lá vão comer o «porco preto com migas de espargos» ou outra das especialidades do cardápio, para não falar de alguma surpresa que este contenha, e assim ficarem em condições de, por sua vez, passarem a palavra.

Há uma outra qualidade que diferencia O Chico: a garrafeira. Não se esperem quantidades astronómicas de garrafas ou uma diversidade sem limites. É uma pequena garrafeira, mas de qualidade muito acima do que a maior parte dos seus congéneres tem para oferecer, pois é seleccionada e criteriosa.

À mesa d’O Chico tenho conhecido vinhos excelentes, e não muito frequentes, como o Folha do Meio, o Herdade do Pombal (feito com 60% de Aragonês, dividindo-se o resto por Trincadeira, Alicante Bouschet e Cabernet Sauvignon – excelente o de 2008 e 2009), o Aromas (sobras de um vinho de Francisco Nunes Garcia para uma empresa entretanto desaparecida) ou o raro Fusão (2008, Herdade das Pias, feito salvo erro com Aragonês, Trincadeira, Alicante Bouschet e Tinta Caiada).

Gosta de comida alentejana? Gosta de comer bem? Gosta de bons vinhos? Vá ao Chico.




27 de janeiro de 2014

A minha vizinha de cima* – crónicas 9

A minha vizinha de cima é uma presença incondicional das reuniões de pais. Com três filhos, não falha nenhuma, o que significa que durante o ano tem períodos de verdadeiro frenesim. E não vai apenas ouvir. É uma previsível participante.

Mas aqui é que a porca torce o rabo.

A sua opinião dos professores é dupla e contraditória. Por um lado, são professores, e ela é da velha escola do respeitinho. Por outro, alimenta uma permanente desconfiança acerca deles. (E o melhor seria dizer delas, pois a maioria são mulheres, género por que nutre um inexprimível rancor). Não por colocar em causa a sua sabedoria, ou a falta dela, ou a boa, má (ou nenhuma) pedagogia deste ou daquele. Não. Ela procede a uma vasta investigação sobre cada um deles.

Veterana das escolas, tem os seus circuitos para tirar nabos da púcara: se são solteiras, casadas ou divorciadas, se têm filhos, que tiques reveladores manifestam, qual a sua situação social, se fumam ou não fumam, que carro têm e onde moram. Se têm facebook, manda os filhos pedirem amizade e fica na grande expectativa de ver o que aparece. E aparece cada coisa!

Vai somando os factores, cuja ordem é como se sabe arbitrária quando se trata da adição.

Analisa-lhes as roupas e tira as suas conclusões. Analisa-lhes o olhar, a fisionomia, as reacções, o modo como se sentem ou como andam, e tira as suas conclusões.

Durante as reuniões de pais, apresenta o ar apagado do cientista em pleno labor experimental, preparando toda a argumentação que há-de usar quando tomar a palavra. E quando toma a palavra é sempre assustadoramente reverencial. Oleosamente corroborante.

À saída, porém, chama invariavelmente a atenção para a sua indignação com «o que se passa». E faz notar, em volta, os seus triunfos argumentativos. E, claro, também os seus trunfos interpretativos.

É desta massa que se faz a sua resignação.


A minha vizinha de cima também é presença assídua no centro de saúde. Tremem, sempre que a vêem entrar.



Jorge Colaço
(convidado deste blog)

* Qualquer semelhança das personagens destas crónicas com pessoas existentes é pura coincidência. 

25 de janeiro de 2014

Lombos de pescada


Acabámos de jantar!
Lombos/medalhões de pescada envoltos numa massa de amêndoa pelada, chouriço, coentros e alho, tudo picado no 1,2,3, depois de passados muito rapidamente por manteiga.
Vão ao forno, salpicados por cima com pequenas nozes de manteiga, aproximadamente 30 minutos.
Acompanharam com fatias de batata aromatizadas com ervas finas (compra-se no Jumbo, congeladas) e com metades de alperce.
"O pecado da gula".