31 de março de 2013
28 de março de 2013
26 de março de 2013
Escrito no éter – Crónica de Maria de Lourdes Modesto
Os comeres da minha
infância
Ao relembrar o que me
manteve a vida até à idade dos cabelos de prata, receio provocar nalguns
leitores inesperadas mas saudáveis lágrimas. Digo saudáveis por provirem de recordações
que envolvem sentimentos, carinhos e boas lembranças que a nossa memória, por
mais fragilizada que se encontre, não apaga.
Quem não se lembra
dos sabores e dos cheiros da sua infância? Aquele cheiro tão especial que inundava a casa no dia de fazer a sempre oportuna
marmelada? E o do ferro de engomar a queimar o mais suave leite-creme? Do
cheiro da canela que bordava amorosamente o arroz doce, com ovos ou sem eles,
cremoso para uns e seco para outros. Dos biscoitos de azeite, do chiar das azevias
de grão a enfolar e alourar na frigideira de ferro? E o bolo de mel e azeite,
crescendo, crescendo até empurrar a porta do forno? E a gemada com vinho
abafado, preparada com tanto amor e convicção nas épocas de exames?
Quem de nós,
alentejanos, esqueceu o travo do vinagre que em parceria com o coentro tornava
a sopa de cação inolvidável. Quem poderá esquecer o murmurar das filhós, dos
sonhos e dos brióis a ferver no azeite? E as sopas? A canja quente, remédio e
consolo de sarampos, varicelas e outras pequenas moléstias? Só quem nunca
provou a sopa de beldroegas com os queijinhos frescos de ovelha refastelados
nas sopas do magnífico pão alentejano e adubada com o suave e doce azeite
transtagano, não morre de saudades por ela! Quem não experimentou a experiência
sensorial de esmagar na boca o generoso e adocicado grão na companhia de
espinafres ou beldroegas sabiamente doseados?
Quando se fala em
arte, referem-se a pintura, a escultura a música, mas jamais a culinária. Que
outra arte faz tanto apelo aos cinco sentidos e ao bom gosto? E que dizer desse
prodígio de imaginação que é a Açorda, a que teimam em chamar “sopa alentejana”.
Mas isso não é o mais
importante nas minhas lembranças gastronómicas. O que mais conta, foi desde
muito cedo ter conhecido os cheiros e os sabores de uma das melhores cozinhas portuguesas,
a alentejana.
Fotografia que ilustra a página 229 (sopa de beldroegas) da primeira edição da Cozinha Tradicional Portuguesa, com fotografias de Augusto Cabrita e Homem Cardoso.
(convidada deste blog)
Fotografia que ilustra a página 229 (sopa de beldroegas) da primeira edição da Cozinha Tradicional Portuguesa, com fotografias de Augusto Cabrita e Homem Cardoso.
25 de março de 2013
Sobre o manjericão
Encontrei neste livro, Ingredientes – Loukie Werle e Jill Cox, uma dica sobre o manjericão: Para conservar a cor roxa ou o verde forte das folhas, não pique com uma faca, parta antes as folhas com as mãos. Use apenas as folhas.
Noutro livro, L'encyclopédie Visuelle des Aliments, editora Québec/Amérique (que pena, gosto mais da capa da edição que eu tenho), cheio de ilustrações giras de alimentos, também encontrei informação muito útil sobre o manjericão. Se clicar na foto consegue ler.
Noutro livro, L'encyclopédie Visuelle des Aliments, editora Québec/Amérique (que pena, gosto mais da capa da edição que eu tenho), cheio de ilustrações giras de alimentos, também encontrei informação muito útil sobre o manjericão. Se clicar na foto consegue ler.
capa da edição de 1996 |
Salada de tomate com manjericão
Muito fácil, rápida de fazer e saborosíssima.
Tomate cereja (de rama) ou tomate pêra cortado às rodelas, temperado com azeite, sal (pouco) e folhas de manjericão.
21 de março de 2013
O melhor arroz doce do mundo!
Há alguns doces que são conhecidos como "os melhores do mundo" como por exemplo o melhor bolo de chocolate do mundo. Já vi também o melhor gelado de chocolate do mundo.
Mas nunca tinha provado "o melhor arroz doce do mundo". Ele existe! Pelo menos eu adoro comê-lo sempre que vou ao restaurante Andorinhas. Fica na Calçada da Ajuda, e tem outros motivos gastronómicos de interesse.
Mas nunca tinha provado "o melhor arroz doce do mundo". Ele existe! Pelo menos eu adoro comê-lo sempre que vou ao restaurante Andorinhas. Fica na Calçada da Ajuda, e tem outros motivos gastronómicos de interesse.
18 de março de 2013
Canja de galinha com massinhas
A canja de galinha (com massinhas) é uma sopa que toda a gente sabe fazer, com certeza. O que tem de interessante é ser ideal, por exemplo, ao Domingo à noite quando não apetece fazer nada... refeição completa: caldo, massa e carne de galinha! Todos adoram. (Deixo esta ideia ao meu irmão, que pode facilitar algumas refeições quando está sozinho com os filhos!)
16 de março de 2013
A minha vizinha de cima* - crónicas 3
A minha vizinha de cima não usa saias.
Tem passado a vida a tentar fixar-se num modelo de
classe média-média tolhida nas aspirações pelo preceituário do estrato
imediatamente abaixo: recato, afã, honorabilidade merceeira, respeitabilidade
vicinal.
Vislumbrou um mundo mais largo no emprego,
após um curso de tecto baixo. Casou. O marido tinha, e continua a ter, uma
situação mais ou menos, sempre num trânsito lento do menos para o mais. Teve um
filho e duas filhas. Alegrias breves, a que se dedica inteira e quase
postumamente.
Enresinou com o passar do tempo. Apurou o
sussurro entre portas. Revestiu-se de uma discrição sacerdotal, que gere em
apertada contabilidade de deves e haveres. Entre dois lanços de escadas, o
sopro da sua opinião ganha força oracular e só não iguala o sibilar clássico
por sucumbir com frequência à fraqueza de se interessar em demasia pela
realização dos seus vaticínios. Tem venetas e ressabiamentos. Remedeia-se num
ou noutro consumo mais lustroso. Continua a tentar desenhar ambições, mas não tem
jeito nenhum para o desenho. Não tem cinquenta anos.
A sua moral sexual é igual à de um dirigente
comunista da velha guarda.
* Qualquer semelhança das personagens destas crónicas com pessoas existentes é pura coincidência.
Jorge Colaço
(convidado deste blog)
14 de março de 2013
Que Bem se Fica!
Por motivos alheios à minha vontade, cá em casa vêem-se jogos de futebol a encarnado e branco. A parte melhor do jogo é o petisco!
Hoje foi este branco delicioso, bem gelado e uns papadis bem picantes.
Delicioso! (parece que o resultado também foi).
Gola branca
Fiz esta gola a partir dum modelo da revista Phildar. Por acaso não consegui que ficasse igual ao modelo... mas acho que ficou gira. É um modelo para homem, em cinza ou castanho, por exemplo.
12 de março de 2013
Convidado especial
A serra de São Mamede não fica assim tão longe da Beira Baixa. Excelente vinho (este é de 2008, 14,5%), o problema é encontrá-lo.
Escrito no éter – Crónica de Maria de Lourdes Modesto
Queijo Amarelo da Beira Baixa.
Há sim! Há coincidências.
Mão amiga fez-me chegar às mãos um nada banal, antes magnífico, queijo Amarelo da Beira Baixa, o meu preferido dos queijos portugueses.
Há sim! Há coincidências.
Mão amiga fez-me chegar às mãos um nada banal, antes magnífico, queijo Amarelo da Beira Baixa, o meu preferido dos queijos portugueses.
Consolava-me eu com um naco de pão alentejano coberto com
uma fatia do divino queijo quando olho por puro acaso para o ecrã da televisão
e, sem ainda acreditar em coincidências, antes em alucinações, a televisão
mostrava-me um bando de mulheres de bata e toucas brancas a moldar em aros de
metal uma igualmente branca massa de leite coalhado que prometia tornar-se
amarelada e uma das nossas mais preciosidades gastronómicas: o queijo.
Perguntei-me: porquê a esta hora uma lição de como fazer
queijo? Levantei o som e para meu grande regozijo ouço a notícia que
justificava as imagens: O queijo Amarelo da Beira Baixa, num concurso realizado
nos Estados Unidos da América, entre muitos outros de alto gabarito, era
considerado “o melhor queijo do mundo”.
Só o reconhecimento público me surpreendeu. Já há anos, na
saudosa Preguiça, uma criação de Miguel Esteves Cardoso, chamei a atenção dos
leitores para os queijos da Beira-Baixa, preteridos por outros na fama, muitas
vezes sem merecimento. Dos três grandes queijos da Beira-Baixa o meu eleito é o
AMARELO. Não precisei que os americanos me chamassem a atenção para o aroma e
textura deste maravilhoso produto português, mas agradeço a distinção…
Fruto de uma sábia mistura de leites, de ovelha e de cabra,
com predominância do de ovelha, coalhado com o estômago de cabrito, ao feliz
resultado também não é estranho o seu meio ambiente.
Mas atenção: o queijo AMARELO da Beira-Baixa só deve ser
comido quando a sua textura permitir o corte da faca. Sim, porque o queijo
Amarelo é presumido, não é um queijo vadio, como outros que por aí andam de
cabeça ao léu a deixar-se comer à colher.
Repare bem, caro leitor, que eu não disse que dos queijos
portugueses só gosto dos da Beira-Baixa – Amarelo, Picante e Castelo Branco – o
que eu disse é que o AMARELO da Beira-Baixa é o meu queijo português de
eleição.
(convidada deste blog)
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